sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Hugo Chavez e o avesso do avesso


Não é muito difícil encontrar nas revistas mais vendidas do Brasil, comentários que apontam Hugo Chavez, presidente da Venezuela, como um ditador, atrasado e comunista.

Por outro lado, em outras publicações, Chavez é colocado num altar irretocável e condecorado por todas as idéias socialistas e feitos populares ( outros acham - populistas).

Muito do que Chavez faz é realmente polêmico. Exemplos claros são os acordos de comércio de armas com a Rússia; o suspeito apoio a grupos guerrilheiros colombianos e os discursos inflamados contra os Estados Unidos e o presidente George W Bush.

Mas cada país não tem autonomia para fazer o que bem entender?

Tudo isso, como diz o Almeida do boteco, é lenha pra muita fogueira. Caldo pra cana.

Mas onde gostaria de chegar por aqui é o que Chavez discursa na inauguração do aeroporto venezuelano, na antevéspera das eleições presidênciais americanas.

Como em outros momentos, o presidente venezuelano foi bastante direto. Mas bem diferente do que os oposiciostas dele comentam.

Dessa vez, Chavez apresenta ideais de esperança aos Estados Unidos e ao mundo, além de felicitações pela possível vitória de Barack Obama.

Chavez diz o que espera do futuro dessa eleição. Da importância da conquista de um homem negro na história americana, na possível mudança política. De um mundo de paz. E de um comando não necessariamente socialista, muito menos revolucionário.

É no mínimo curioso.

Parte do discurso de Hugo Chavez:

"The day after tomorrow will be the elections in the United
States. The entire world is waiting, that a black man becomes the President
of the United States is no small thing. Now that this black man is at the
height of history we hope, we hope - we don't ask him to be a revolutionary,
we don't ask him to be a socialist. No, only that the black man is placed at
this point of becoming the President of the United States. We believe him as
the world believes him. I hope he is placed at height of the moment. From
now I send signals to the black man, from here that we are of Indian, black,
Caribbean, South American races. I hope that he is put at the height of what
is occurring in the world and of the hope that the world has, that the
majority of us have, that we have a world of peace."

A avó de Barack Obama e o herói anônimo



A sociedade tem o mito do herói como parte fundamental da estrutura do pensamento e da ação humana. Seja na educação ou no entretenimento, o exemplo de alguém ou de algo serve de referência a ser seguido. É parte cultural.

Cada vez mais a figura heróica é encontrada apenas no universo do esporte, até porque em outros campos da vida social, o aumento do descrédito depositado nas lideranças políticas, religiosas e intelectuais só cresce, pelo menos no Ocidente.

O novo herói mundial, Barack Obama é uma exceção e tudo indica que ele já percebeu isso.

Além da sua própria imagem e méritos da conquista, Obama refletiu no discurso da Carolina do Norte , a perda da avó durante a campanha para presidente.

Na últimas horas de vida de Madelyn Dunham, Barack cancelou a participação em comícios, mudou sua agenda eleitoral e viajou ao Havai para se despedir dela.

Aposentou o paletó, botou um tênis e caminhou sozinho pelas ruas vizinhas da casa onde sua avó estava internada.

Na véspera da eleição nos Estados Unidos, Barack Obama durante o discurso, homenageou Madelyn com frases emblemáticas e cheias de simbolismo heróico. Disse que ela era uma "pessoa comum" e uma "heroína silenciosa".

"Uma heroina que como muitas pessoas são anônimas, não tem os nomes publicados nos jornais, mas como muitos que aqui estão presentes, são pais e mães que se sacrificam diariamente para manter a família". " Para ver nossos filhos e netos com uma vida melhor"... " A América é isso" ... "É para isso que lutamos."

Segue abaixo as transcrições de parte do discurso de Barack Obama (ainda candidato) na Carolina do Norte:

"Some of you heard that my grandmother who helped raise me passed
away this morning. Look, she has gone home. She died peacefully in her sleep
with my sister at her side, so there is great joy as well as tears. I'm not
going to talk about it too long, because it's hard to talk about."

"She was one of those quiet heroes that we have all across America,
who they aren't famous, their names aren't in the newspapers but each and
every day they work hard and look after their families."

"In this crowd there are a lot of quiet heroes like that. Mothers
and fathers who have worked hard and sacrificed all their lives, and the
satisfaction that they get is seeing that their children, grandchildren maybe
even great grand children live a better life than they did. That's what
America is about. That's what we're fighting for."

***

O que seria da sociedade sem a figura mítica do herói?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Congo e Ruanda em fogo alto


Dessa vez, a panela de pressão ferve na África Central, região do Congo, fronteira com a Ruanda. Os rebeldes Tutsi estão fervorosos, a população de maioria Hutu sai de suas casas e mais um banho de sangue é previsível nessa região que já foi colônia da Alemanha , passou para Bélgica e vive historicamente as diferenças entre tribos africanas pré-colonização européia. Tropas da Onu estão por lá. Funcionários de Ongs internacionais saem com medo do que pode acontecer.

Pra entender um pouco o conflito:

Ruanda é um pequeno país no centro da África.

Ruanda só existe depois da colonização. Depois que os europeus foram lá, demarcaram terras, dividiram entre eles e decidiram, depois de algumas disputas (como a primeira guerra mundial), que país iria ganhar qual pedaço africano. Antes disso a África Central era parte de um continente vasto, cheio de florestas, savanas, animais perigosos e tribos que viviam em seus domínios e com sua cultura própria.

Portanto a história de Ruanda começa no século XIX, quando ela é "dada" à Alemanha. Posteriormente o controle sobre o país foi passado para a Bélgica.

Para controlar o país, que depois ainda se dividiu em dois, Ruanda e Burundi, os belgas se aproveitaram de um antigo sistema de poder entre as duas tribos dominantes do local, os tutsi e os hutu. Os tutsi eram uma minoria, mas eram eles que reinavam e controlavam a população local, de maioria hutu. Os belgas colocaram os tutsi para trabalhar com eles e lhes deram poder e liderança. Dessa forma procuravam controlar a população local com certa facilidade. Mas a parceria não durou muito, pois logo os tutsi se revoltaram contra os belgas e quiseram a independência. Acreditando que os hutu seriam mais fáceis de controlar, os belgas inverteram o sistema de poderes. Os hutu, que tinham grandes ressentimento contra os tutsi, os discriminaram e caçaram durante décadas. Muitos tutsi foram exilados nos paises visinhos.

Em 1990, uma força guerrilheira formada pelos tutsi exilados, a FPR, invadiu Ruanda tentando derrubar o governo. O governo hutu começou a fazer propaganda via rádio contra os tutsi, incitando a população ao ódio. Entre derrotas e vitórias, o governo e a força revolucionária tentavam chegar a algum acordo. Mas em 1994 o presidente hutu foi morto quando seu avião foi derrubado, logo que voltava de uma negociação pela paz. Com isso o gorverno passou a incitar a perseguição, a matança e a violência generalizada contra os tutsi, o que se extendeu também contra os hutu moderados, acabando por exterminar 800 mil pessoas.

O governo incitava a população a parar tudo para se dedicar exclusivamente à caça de tutsi. Fecharam escolas, fábricas e o comércio. Nada mais funcionava. Ninguém deveria trabalhar até que o trabalho de exterminar as "baratas" tutsi fosse terminado. O governo utilizou-se de dinheiro cedido pela ONU para financiar a compra de milhões de facões, fuzis e revólveres que distribuiu pela população. Todos os meios de comunicação se dedicaram exclusivamente a pregar a limpeza étnica.

E, em seguida, já não existiam ruas em Ruanda, existiam apenas pilhas de corpos, ossos, roupas, casas destruídas. Um cenário demoníaco.

O confronto no leste do Congo envolve a tensão étnica oriunda do massacre de 1994 de pelos menos 500 mil tutsis, na vizinha Ruanda.

A crise explodiu no leste congolês desde o início da ofensiva liderada pelo general renegado Laurent Nkunda, que afirma que protege a minoria tutsi de milícias hutus que participaram do genocídio e depois fugiram para o Congo.