sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sobre a beleza

Beleza é percepção individual.

Normalmente o que dá prazer aos sentidos é considerado belo.

E a beleza pode ser universal?

Na história, o conceito de belo tem características religiosas, místicas, sociais.

Às vezes, é conveniente achar beleza no que a sociedade acha belo.

Às vezes, o meio exerce coerção pra você concordar com o que o grupo considera belo.

Não para você encontrar sua verdadeira beleza.

E a sua verdadeira beleza.

Talvez isso não seja belo.

E se dissermos que quando duas pessoas acham algo bonito: uma mulher, a arte, um lugar; a percepção é a mesma entre ambas?

E se não acharmos algo realmente belo, dia mais dia menos, perceberemos a traição da beleza em nós mesmos?

A beleza pode vir de convencimento? Se pensarmos constantemente que algo é belo , aprenderemos e vamos nos convencer a achar beleza no que antes não pensávamos?

Há beleza no feio?

E o feio é ausência do belo?

Ah, o feio só é feio porque há o belo. Se não, não seria a bela mística.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Sai pra lá


Crux sancta sit mihi lux
Non draco sit mihi dux
Vade retro satana
Nunquam suade mihi vana
Sunt mala quae libas
Ipse venena bibas

Tradução aproximada:

Possa a Cruz Sagrada ser minha luz
E impeça o demônio de me guiar
Vade retro Satanás
Nunca me domine.
O que você me oferece é mal
Beba seu próprio veneno

* * *

Tenho sentido a Bavária bem próxima ultimamente.
Muitos manuscritos históricos aparecem em mosteiros por lá.
Extiste, entre tantos, esse aí de cima, mágico e religioso.

Foi usado em exorcismos medievais.

Descoberto em 1415 na Abadia de Metten.....Bavária! E é atribuido a São Benedito, vivo no século V.

A origem, segundo estudos é de Jesus, o próprio. Quando disse, nas palavras da Bíblia em latim, em Mateus 16:23: "vade retro me, satana".

Até 1642 a fórmula era considerada superstição. Naquele ano ela foi redescoberta na Áustria.

Então seguiram-se poucos passos.

Até que em 1742, o Papa Benedito XIV a sancionou e tornou os versos como parte do ritual da Igreja Católica Romana.

As frases são usadas para afastar qualquer mal, segundo a Igreja.

E com a mesma intensidade, pode-se fazer um código gravado em amuletos, crucifixos:

(VRSNSMV SMQLIVB ou VRS:NSMV:SMQL:IVB)

Por enquanto, "amém".

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Tô vendo de baixo, pra poder subir..
tô vendo de cima pra poder cair
tô divido pra poder sobrar
desperdiçando pra poder faltar
devagarinho pra poder caber
bem de leve pra não perdoar
tô estudando pra saber ignorar
eu tô aqui comendo para vomitar
Eu tô te explicando pra te confundir,
Eu tô te confundindo pra te esclarecer,
Tô iluminado pra poder cegar,
Tô ficando cego pra poder guiar.
Suavemente pra poder rasgar
com o olho fechado pra te ver melhor
com alegria pra poder chorar
desesperado pra ter paciência
carinhoso pra poder ferir
lentamente pra não atrasar
atrás da vida pra poder morrer
eu to me despedindo pra poder voltar
Eu tô te explicando pra te confundir,
Eu tô te confundindo pra te esclarecer,
Tô iluminado pra poder cegar,
Tô ficando cego pra poder guiar.

http://br.youtube.com/watch?v=lPwfqjIxgH4
Tom Zé

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Trecho

" Um homem se ocupa com suas próprias questões enquanto tem interesses e enquanto tem privacidades.

Na ausência destes, pelo medo do vazio da vida, ele se volta febrilmente para os assuntos dos outros. Para endireitá-los. Para castigá-los. Para esclarecer cada idiota e esmagar todo depravado. Para oferecer favores aos outros ou persegui-los selvagemente.

Entre o fanático altruísta e o fanático assassino há naturalmente uma diferença de grau moral, mas não diferença de essência.

O assassínio e o auto-sacrifício são simplesmente dois lados da mesma moeda. Dominação e benevolência, agressão e devoção, repressão do próximo e auto-repressão, a redenção das almas daqueles que diferem de nós: não são pares de opostos, mas apenas expressões diversas do vazio e da insignificância do homem. "

Sua insuficiência para si próprio", conforme a expressão de Pascal ( ele mesmo um contaminado)".

Amós Oz, A Caixa Preta

Caixa Preta


É uma das melhores leituras que vôo nesse ano.
Originalmente publicado em 1987.

Caixa Preta, de Amós Oz.
Romance psicológico que invade, tranpassa, permeia e mergulha numa linguagem clara, direta e fina a vida de um casal divorciado que entre correspondências abre uma espécie de caixa preta de relacionamentos, sentimentos, sensações, memórias, alegrias, pensamentos, pontos de vista, angústias, rancores do passado, presente e expectativas futuras.

De relacionamentos?

Não se trata de falar apenas de casamento. Da instituição. É muito mais além.
É também e principalmente da unidade homem-mulher como indivíduo.

A relação com o mundo: sociedade, família, amigos, trabalho, sonhos, aventuras.

E se não bastasse, a forma com que o livro é escrito também é cheio de curiosidades:

Um conjunto de cartas e telegramas.

Não há apenas um narrador.

Existem vários. E todos são principais.

A narrativa é leve, por mais densa que podem ser as visões do tempo, da tolerância, das experiências, do fanatismo, do orgulho, da luxúria, vaidade; da cabeça dura de cada um.

O livro não é grande. Mas talvez exija uma leitura de idas e vindas agradáveis, meditativas.

Reflexos e reflexões que as poucas páginas (a edição que comprei conta 242) tornam-se o dobro, o triplo, como se as entrelinhas imaginárias navegassem no oceano das palavras impressas por Amós Oz.

Simplesmente sensacional!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

De 1937 a 2008, da série concertos em Sampa

Domingo de sol recebeu Carmina Burna de Carl Orff em pleno Parque Ibirapuera.

Johann Andreas Schmeller, doutor bavariano em dialetos, publicou a coleção de 200 poemas medievais encontrados por volta de 1803 na abadia de Benediktbeuern, Bavária superior, em 1847 sob o título de “Carmina Burana".

Carl Orff estreiou Carmina Burana em canções seculares (não-religiosas) para solistas e coros, acompanhados de instrumentos e imagens mágicas, na Alemanha em 1937.

O famoso poema de abertura com tradução:

1. O Fortuna
velut Luna
statu variabilis,
semper crescis
aut decrescis;
vita detestabilis
nunc obdurat
et tunc curat
ludo mentis aciem,
egestatem,
potestatem
dissolvit ut glaciem.

1. Oh, Fortuna,
como a lua,
variável,
sempre cresces
ou minguas;
vida detestável
ora frustra
ora satisfaz
com zombaria os desejos da mente,
à pobreza
e ao poder
dissolve como se fossem gelo.

Diferenças cidadãs

Durante o café, no intervalo dos relatórios sobre a reação do Leste Europeu frente a guerra da Geórgia, um breve parêntese comparativo entre o Brasil e a República Tcheca.

Nós, brasileiros, historicamente reclamamos da relação estupradora e de mão única, do excesso de impostos da classe média e a completa falta de amparo do governo na segurança, saúde, educação, infra-estrutura, qualidade geral de serviços e blá blá blá.

Reclamamos. Não vamos às ruas. E fica do jeito que está.

Não que ir à rua necessariamente mude alguma coisa.

Mas veja só que diferença cultural, pela simples diferença, sem superlativos:

12 de agosto de 2008. Cerca de 100 georgianos vão às ruas de Praga protestar contra a guerra da Geórgia.

Estima-se que vivem na República Tcheca , trezentos imigantes da Geórgia. Muitos em férias em seu país natal.

100 de 300 - um terço da população. Número equivalente muitas vezes a um conjunto de apartamentos de um prédio residencial de alguma capital brasileira.

E os georgianos-tchecos se mobilizaram. E ainda levaram em conta outro contexto histórico:

Os manifestantes com cartazes compararam a atual guerra aos quarenta anos da invasão da Rússia na antiga Tchecoslováquia em agosto de 1968.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Cotonete dimensional

Pra quem curte música erudita e viaja nas partituras etéreas de Beethoven, deixo postado a primeira parte da tradução da letra do coral An Die Freude ( Ode à Alegria) da 9a sinfonia.
Não é sempre que podemos encontrar nas esquinas do centro de Sampa, em menos de quatro dias, execuções de algumas das maiores obras do compositor.
Um cotonete dimensional
Fantasia Coral no Teatro Municipal com a Orquestra Experimental ( & )
Nona Sinfonia com a Orquestra Sinfônica de Israel, na Sala São Paulo

***
"Die Freude", de Friedrich von Schiller
"Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!
Alegre, formosa centelha divina,Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo."

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Ossétia, Abcásia, quem?

Se você teve a ingrata surpresa de ler as manchetes sobre a Ossétia e nem imagina onde é que a Georgia e a Abcássia entram na história, segue uma breve pincelada do quadro.

Que lugar é esse?

Fica no Cáucaso. Região bastante conhecida para nós do Brasil...
Da Lua, você encontra fácil na foto da Nasa:













Ainda não? E agora?



A situação tá muito difícil por lá.
O conflito já é considerado guerra. Mais de duas mil pessoas morreram nos últimos dias e existem por baixo, quarenta e cinco mil refugiados.
Pontos:
* A Ossétia e a Abcásia são regiões independentes desde 1990 e tentam separar-se completamente da Georgia desde o fim da União Soviética. Só que a Rússia nem pensa em perdem sua influência na região.
* 70 mil pessoas vivem na Ossétia. Elas são etnicamente distintas dos georgianos e falam sua própria língua, parecida com o persa.
* A Ossétia e a Abcássia tem grande conexão com a Rússia.
Veja: 90% dos habitantes tem passaporte russo ; Dois terços do orçamento do governo vem da Rússia. A moeda predominante é o rublo russo.
Enquanto isso, o governo atual da Georgia puxa a sardinha, o atum e todos os outros pescados para os Estados Unidos e a União Européia.
* Pela Georgia passa o oleoduto que transporta gás e petróleo do mar Cáspio até a Turquia.
* Só que a Rússia tem investido mais de 650 milhões de dólares na construção de gasodutos e novas instalações para abastecer a região.
Lembra que os Estados Unidos aceitaram e deram uma forcinha político-militar para a independencia de Kosovo?
Pois é, agora a Rússia diz que faz o mesmo com a Abcássia e a Ossétia.
E aquela história norte-americana contada recentemente de que é necessário derrubar Saddam Hussein no Iraque e depor o governo do Afeganistão para se ter paz?
Algo no ar, aponta para a justificação da Rússia de invadir e atacar a região.
Não interessa em nada ao governo russo uma influência européia e dos Estados Unidos no Cáucaso.
Pode haver em breve mais um golpe militar internacional num país independente.
Novamente com banho de sangue de gente inocente.
Só que dessa vez o brinde pode ser com vodka.