quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Fim de uma era



Apenas um parêntese sobre o samba desafinado de uma nota só...

Porque é dia de luto, porque O PT acabou.

PT hoje é Sarney, Collor, Renan e Lula.

É totalmente inimaginável isso.

Não há desculpa de governabilidade que assegure essa traição ideológica.

* Marina Silva saiu do partido hoje.
* Senador Flavio Arns tá de saída do PT também, e disse que está envergonhado com a postura do partido no Conselho de Ética sobre o arquivamento das 11 denúncias contra Sarney.

* Suplicy disse durante sessão no Conselho de Ética que se não fosse suplente, e ao contrário do partido, votaria pelo não arquivamento dos processos contra Sarney.

* Mercadante renunciou a liderança do PT no Senado.

E o PT, quem diria, a mando do Lula (?!?!) absolveu o Sarney.

Ou seja, a "esquerda" que o PT representa hoje é a do Sarney, Renan e Collor.
´
É o fim de uma era do maior partido de esquerda do país.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Renan Calheiros e Lula



Como diz o ditado da vovó "é uma mão que lava a outra".

O problema é a lavagem ou a qualidade da água?

O filho do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), acaba de receber um presentinho do nosso presidente Lula: o encaminhamento ao Congresso de um processo para aprovação de uma concessão de rádio FM em Água Branca, sertão de Alagoas.

José Renan Calheiros Filho, filho do senador Renan, além de ser o principal acionista da empresa JR Radiodifusão é o prefeito de Murici (AL).

Para lembrar: em 2007, Renan Calheiros foi acusado de ser dono da empresa por meio de laranjas.

Renan Calheiros também foi ministro da Justiça do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. E renunciou em 2007 à presidência do Senado depois de uma série de acusações.

Hoje, Renan é um dos principais defensores do senador José Sarney.

Aqui um breve resumo recente do senador Renan Calheiros, postado nesse blog.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Farra dos congressistas americanos


O Wall Street Journal, nos Estados Unidos, tem publicado uma série parecida com a nossa bela realidade política brasileira.

É a farra de viagens dos congressistas americanos.

Numa das reportagens , o jornal aponta 10 parlamentares que entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009 , em pleno reveillon, resolveram estudar as mudanças climáticas no Pólo Sul.

Pólo Sul no ano novo ?

Pra chegar lá, que deve ser muito distante, aconteceram algumas conexões.

Na ida, uma primeira parada pelos pontos turísticos da Austrália. Depois, por que não a Nova Zelândia? Pois é, é pra lá que eles foram.

Na volta, como devia estar tudo muito cansativo, a comissão fez uma parada estratégica num hotel 5 estrelas no Havaí.

Seis parlamentares da comissão levaram as esposas.

Por baixo, os gastos dessa viagem estudo para o "contribuinte" americano gira em torno dos 500 mil dólares.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Quem é quem no conselho de Ética do Senado



Olha só quem é que vai analisar uma representação e três denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP):

* Almeida Lima (PMDB/SE) - (titular)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado

* Romero Jucá (PMDB/RR) - (suplente)
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas

* Antonio Carlos Valadares (PSB/SE) - (titular)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado

* Delcídio Amaral (PT/MS) - (suplente)
- Beneficiado por atos secretos

* Demóstenes Torres (DEM/GO) - (titular)
- Beneficiado por atos secretos

* Antonio Carlos Júnior (DEM/BA) - (suplente)
- Beneficiado por atos secretos
- É suplente, não recebeu nenhum voto do povo nas eleições

* Eliseu Resende (DEM/MG) - (titular)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado

* Maria do Carmo Alves (DEM/SE) - (suplente)
- Beneficiada por atos secretos
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas

* Gilvam Borges (PMDB/AP) - (titular)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado
- Beneficiado por atos secretos

* Mão Santa (PMDB/PI) - (suplente)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas

* Gim Argello (PTB/DF) - (titular)
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas

* João Vicente Claudino PTB/PI) - (suplente)
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas

* Heráclito Fortes (DEM/PI) - (titular)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado

* Rosalba Ciarlini (DEM/RN) - (suplente)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas

* Inácio Arruda (PC do B/CE) - (titular)
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas

* Augusto Botelho (PT/RR) - (suplente)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado
- Beneficiado por atos secretos

* João Durval (PDT/BA) - (titular)

* Jefferson Praia (PDT/AM) - (suplente)
- É suplente, não recebeu nenhum voto do povo nas eleições

* João Pedro (PT/AM) - (titular)
- Usou indevidamente facilidades do Senado
- É suplente, não recebeu nenhum voto do povo nas eleições

* Ideli Salvati (PT/SC) - (suplente)

* Marisa Serrano (PSDB/MS) - (titular)

* Arthur Virgílio (PSDB/AM) - (suplente)
- Beneficiado por atos secretos

* Paulo Duque, presidente (PMDB/RJ) - (titular)
- É suplente, não recebeu nenhum voto do povo nas eleições

* Lobão Filho (PMDB/MA) - (suplente)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado
- Beneficiado por atos secretos
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas
- É suplente, não recebeu nenhum voto do povo nas eleições

* Romeu Tuma (PTB/SP), corregedor

* Sérgio Guerra (PSDB/PE)

* Eduardo Suplicy (PT/SP) - (suplente)
- Usou indevidamente facilidades do Senado

* Wellington Salgado de Oliveira (PMDB/MG) - (titular)
- Beneficiado por atos secretos
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas
- É suplente, não recebeu nenhum voto do povo nas eleições

* Valdir Raupp (PMDB/RO) - (suplente)
- Empregou parentes seus ou de outros politicos no Senado
- Beneficiado por atos secretos
- Apresenta ocorrências na Justiça ou Tribunais de Contas

Até 23 de julho duas vagas ( uma de titular e outra de suplente) estavam em aberto.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Lula: nepotismo explícito de Sarney 2



No post de 22 de julho aqui do blog está em brevíssimo resumo o escândalo do nepotismo envolvendo o namorado da neta do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e de como o presidente agiu para conseguir emprego para o rapaz - que continua empregado com salário de 2,7 mil reais mensais.

As gravações telefônicas estão divulgadas pela Polícia Federal e pode-se ouvir as coversas do próprio senador Sarney com o filho Fernando para se obter o trabalho para o namorado da neta.

Hoje pela manhã, o presidente Lula participou de entrevista para a Rádio Globo.

O que ele disse?

"Eu acho que precisamos fazer as investigações corretas e o Senado tem instrumentos para isso. Não pode vender tudo como se fosse um crime de pena de morte".

* Será que o presidente Lula não está informado que existe PROVA VERBAL do nepotismo?
* E as outras dezenas de acusações contra o presidente Sarney?
* Os 80% de aprovação do governo são imunes ao risco de um sacrificio político?
* E o passado de luta do PT? Se hoje o maior defensor de Sarney é o próprio Lula?
* E como fica a imagem do Senado com um presidente mergulhado em provas cabais de corrupção?
* E a independência do poder Legislativo? Se a maior defesa do líder dele vem de outro poder, o Executivo?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sarney: gravações mostram nepotismo explícito


Fato:
A Polícia Federal , durante a Operação Boi Barrica, grava conversas telefônicas com autorização judicial entre José Sarney, presidente do Senado ; o filho dele, Fernando e o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia.

Conversa 1:

* Fernando Sarney diz à filha, Maria Beatriz Sarney, que mandou Agaciel Maia reservar uma vaga para o namorado dela, Henrique Dias Bernardes.

Conversa 2:

* José Sarney em diálogo com Fernando, se compromete a falar com Agaciel para sacramentar a nomeação.

Fato:

* Henrique Dias Bernardes é nomeado 8 dias depois, por ato secreto.

A vaga de Henrique:

Assessor parlamentar 3, com salário de R$ 2,7 mil

Para relembrar:

Agaciel Maia, ex-diretor-geral do Senado, esteve no poder desde 1995, alçado pelas mãos de José Sarney, em sua primeira passagem pela presidência da Casa.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Maranhão, terra do senador do Amapá?



Como é curioso saber por onde seguir e pra onde ir no Maranhão!

Hospitais:

* Hospital e Maternidade Marly Sarney.

Ruas e avenidas:

* Rua José Sarney,
* Rua Marly Sarney,
* Rua Fernando Sarney,
* Travessa Roseana Sarney,
* Avenida Governadora Roseana Sarney,
* Avenida José Sarney,
* Avenida Senador José Sarney,
* Avenida Sarney Filho
* Duas Travessas José Sarney, uma delas no mesmo bairro de São Luís onde fica a maternidade Marly Sarney.

Escolas:

* Escola Municipal Rural Roseana Sarney,
* Escola Marly Sarney,
* Escola Fernando Sarney,

Biblioteca:

* Biblioteca José Sarney, que fica na maior universidade particular do Maranhão - adivinha quem é o dono???

Informação (Fernando Sarney, filho do presidente José Sarney, é o dono):

* Jornal O Estado do Maranhão,
* TV Mirante, filiada da Rede Globo de Televisão.
* Rádios Mirante AM e FM, e mais 35 emissoras de rádio e 13 retransmissoras da TV Mirante espalhadas pelo estado.

A lista dos crimes de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), indiciado pela Polícia Federal


E hoje qual o escândalo do excelentíssimo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP)?

Ah...deixa o presidente descansar.

Descansar??????

O trambique fica por conta do filho dele: Fernando.

A Polícia Federal o indiciou, depois da Operação Boi Barrica que investigou suspeitas de caixa dois na campanha de Roseana Sarney ao governo do Estado.

Já viu a lista dos crimes do filho do presidente Sarney?

* Formação de quadrilha,
* Gestão de instituição financeira irregular,
* Lavagem de dinheiro,
* Falsidade ideológica.

Pela investigação, o órgão mais beneficiado pelos crimes foi o Ministério de Minas e Energia - controlado politicamente por quem?

Tá difícil?

Pode pensar...

Ah...pra dar uma folguinha no pensamento:

Fernando Sarney é dono da TV Mirante , afiliada da Rede Globo no Maranhão e também dono do Jornal o Estado do Maranhão.

Conselho de Ética, Sarney e Renan Calheiros



Conselho de Ética formado.

* Acusações contra o presidente do Senado, José Sarney: representação do PSOL e três denúncias apresentadas pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio, por quebra de decoro.

* Quem é o presidente do Conselho?
Paulo Duque (PMDB-RJ)

* Quem é ele?
Segundo suplente do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).

Importante saber:
* Paulo Duque não é senador eleito.
* Não concorre a reeleição em 2010.
* Não tem problemas , no momento, em se desgastar com a opinião pública - não busca votos e dessa forma pode ter ações politicamente seguras em relação à bancada governista, que por articulação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), blinda mais uma vez o presidente Sarney.

Momentos "grandiosos" de Paulo Duque em entrevista para Folha de São Paulo, (16/07)

FOLHA - Uma das denúncias se refere a parentes de Sarney contratados por meio de atos secretos...

DUQUE - Meu Deus, eu mesmo empreguei mais de 5.000 pessoas nestes anos todos de vida pública e elas estão felizes, uns me agradecem, outros não. O empreguismo tem que ser elevado. Eu já contratei parentes quando podia.

FOLHA - Não é motivo para cassar?

DUQUE - Para cassar um mandato é preciso que haja algo de extrema gravidade. Não é brincadeira você disputar e ganhar uma eleição. Você sacrifica a família. Não pode ser uma coisa pequena dessas, tem que cassar o mandato por algo grandioso, por uma coisa seriíssima.

FOLHA - Não é grave quando essas contratações eram feitas por atos secretos?

DUQUE - Secreto para que? Esconder de que? Não há condições de esconder, acaba sendo descoberto. Alguém inventou isso, é uma grande bobagem.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Renan Calheiros e a CPI da Petrobras



Renan Calheiros (PMDB-AL), breve currículo recente:

* Escapou da cassação pelo plenário do Senado em 2007, quando foi acusado de ter usado um lobista de empreiteira para pagar pensão à filha.

* Principal articulador da eleição de José Sarney à presidência do Senado.

* Principal articulador da escolha de Fernando Collor (PTB-AL) para a presidência da Comissão de Infraestrutura.

* Principal artífice da eleição presidencial de Fernando Collor para presidência da República em 1989.

* Líder do governo de Fernando Collor na Câmara.

*****

A CPI da Petrobrás e o controle de Renan:

* Leomar Quintanilha (TO) e Paulo Duque (RJ), foram indicados como titulares;
* Almeida Lima (SE) e Valdir Raupp (RO), como suplentes.

Os quatro acima são parlamentares que ficaram ao lado de Renan Calheiros nos seis meses de crise em que ele viveu quando presidia o Senado, em 2007.

Como?

Da seguinte maneira:

* Almeida Lima e Leomar Quintanilha ajudaram a abafar as denúncias como relatores de processos contra Renan no Conselho de Ética. Quintanilha, presidente do conselho, arquivou sumariamente duas representações por quebra de decoro contra Renan.

* Paulo Duque além de ter defendido Renan em 2007 é suplemente no Senado do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que demonstrou preocupação com a CPI.

****

Outras articulações para a CPI:

João Pedro (AM) foi indicado pelo PT. É um dos cotados para presidir a comissão.

Relação de João Pedro e Renan Calheiros:

Ele foi o relator do caso de quebra de decoro contra o senador alagoano e recomendou o arquivamento das denúncias de que Renan teria trabalhado para reverter dívida de R$ 100 milhões da Schincariol junto ao INSS, uma das acusações que foram analisadas no Conselho de Ética.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Honduras de golpe


(Censura em Honduras)

Hugo Chavez, presidente da Venezuela, sobre o golpe:

"Certamente é o império americano que está por trás do governo golpista, senão eles não se atreveriam a desrespeitar as ordens internacionais. Não digo o presidente Obama, mas o império americano. É que se agudizam as contradições no império".

Depois da tomada de poder dos militares, os Estados Unidos disseram que suspenderam as relações comerciais com Honduras. O Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento informaram que não vão ajudar o país, que também está sem petróleo. Chavez disse que não apóia o novo governo e não enviará combustível venezuelano.

Há lado oposto?
Se há oposto, há lado.

Moldávia, revolta popular destrói o Congresso


Passei a manhã na Moldávia, sem nunca ter estado lá.

Estudantes, jovens, adultos foram às ruas. Cercaram o parlamento recém-eleito. Invadiram o edifício com pedaços de pau. Quebraram janelas, destruíram as cadeiras dos congressistas. Subiram no púlpito, levaram a bandeira do país. Saíram com documentos - papel de fogueira. Tudo queimado na rua. Junto com outros carros. Se pudessem levavam também os prédios púbilcos. Como não é possível, botaram fogo onde eles estavam mesmo.

Veio a polícia. Quebra-pau. Feridos, presos.

Revolta. Perdida, encontrada.


Aconteceu depois da vitória conturbada do Partido Comunista em abril de 2009, na eleição parlamentar desse país situado entre a Romênia e a Ucrânia e que já foi parte da União Soviética.

Não há trabalho para os jovens. Muitos deles fogem para a Rússia em busca de emprego.

A Moldávia não oferece muitas oportunidades. Importa gás, petróleo, carvão e energia da Rússia. Não tem riqueza mineral.

O crime organizado e desorganizado se instaura.

A região separatista das Transnistria, se auto-proclamou independente.

Famosas são as minas de Cricova, pelo menos aos amantes de vinho, cujo complexo subterrâneo de túneis alberga a maior adega do mundo, com mais de 120 km de armazéns da bebida.

Dois meses após as luta nas ruas, o presidente Vladimir Voronin impedido constitucionalmente de se candidatar a um terceiro mandato, resolveu dissolver o parlamento.

O Partido dos Comunistas da Moldávia conquistou 60 dos 100 lugares no Parlamento, mas faltou-lhe um voto para eleger o novo presidente do país.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Fica?

Ainda há senadores no PT que querem a saída do presidente José Sarney (PMDB-AP) da presidência do Senado, mesmo com a interferência do líder do poder Executivo do país, o presidente Lula, que com 80% de aprovação popular, prefere o apoio político do que a transparência sobre corrupção.

Os senadores do PT que mantém a decisão da saída do presidente Sarney:

Marina Silva (AC),
Eduardo Suplicy (SP),
Augusto Botelho (RR),
Fátima Cleide (RO),
Tião Viana (AC).


Em tempo:::::: a denúncia contra Sarney de hoje, segundo o Blog do Josias, é a mansão em Brasília, residência do nosso presidente do Senado, avaliada em 4 milhões reais que o senador escondeu da Justiça Eleitoral...

Sobre a denúncia, publicada no Blog do Josias:

1. Em 1997, Sarney comprou a mansão do banqueiro Joseph Safra. A transação foi feita por meio de um contrato de gaveta;

2. Desde então, Sarney disputou duas eleições, em 1998 e em 2006. Pela lei, todo candidato é obrigado a fornecer à Justiça Eleitoral uma declaração de bens;

3. Ao listar os seus bens, Sarney omitiu a posse da mansão brasiliense em 1998. Reincidiu na omissão em 2006;

4. Ouvido, o senador falou por meio da assessoria. Atribuiu a anomalia a um "erro do técnico que providencia a documentação [...] junto aos órgãos competentes";

5. Na resposta, feita por escrito, anotou-se que o imóvel consta das "declarações anuais de IR do presidente, entregues também ao TCU com frequência anual";

6. O conteúdo de dois documentos põe em dúvida a versão oficial. São papéis oficiais, levados pelo próprio Sarney ao TRE do Amapá;

7. Num dos documentos, apresentado na eleição de 2006, Sarney listou os seus bens. Nem sinal da mansão;

8. No rodapé desse documento, Sarney escreveu, de próprio punho, que aquela lista reproduizia a declaração de rendimentos que entregara à Receita Federal;

9. Eis o teor do manuscrito de Sarney: "De acordo com minha declaração de bens à Receita Federal em 2006". Segue-se a assinatura do senador;

10. O segundo documento refere-se à eleição anterior, de 1998. Sarney anexou ao pedido de registro de sua candidatura uma cópia da própria declaração de IR;

11. De novo, nenhuma menção ao imóvel que adquirira no ano anterior;

12. Um outro mistério tisna a transação feita entre Sarney e Joseph Safra: entre a efetivação do negócio e o registro em cartório decorreram dez anos;

13. A mansão foi comprada em 1997 por meio de um "instrumento particular de promessa de venda e compra, não levado a registro";

14. De acordo com o Banco Safra, Sarney pagou R$ 400 mil. Liquidou a dívida no ano seguinte, 1998;

15. Curiosamente, a transferência efetiva do imóvel só foi feita no ano passado, 2008, quando a escritura foi lavrada no cartório de imóveis de Brasília;

16. Por que essa demora de uma década? “Desconhecemos” o motivo, informou o Banco Safra. Sarney não quis responder à pergunta.

17. De acordo com a escritura, o banqueiro Joseph Safra transferiu o imóvel a Sarney e a um dos filhos dele, o deputado federal Zequinha Sarney (PV-MA);

18. O documento atribui a cada um os direitos sobre 50% do imóvel. Diferentemente do pai, Zequinha reportou a sua metade à Justiça Eleitoral;

19. No papel, o valor atribuído à mansão –R$ 400 mil— não condiz com as cifras de mercado;

20. Mesmo no ano da compra, 1997, o valor estimado pelo governo de Brasília para efeitos de cobrança do IPTU era maior: R$ 593,6 mil;

21. Hoje, segundo estimativa da Câmara de Valores Imobiliários de Brasília, um teto como o que foi adquirido pelos Sarney não sai por menos de R$ 4 milhões;

22. A renda e o patrimônio dos brasileiros são protegidos pelo sigilo fiscal. Sarney assegura que a mansão consta do seu IR. Há controvérsias. Que não serão dirimidas senão por meio da divulgação das declarações levadas ao fisco.

23. Em março passado, Sarney vira-se compelido a exonerar o então diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, por conta de uma querela imobiliária;

24. Agaciel ocultara atrás de um irmão, o deputado federal João Maia (PR-RN), a posse de uma mansão avaliada em R$ 5 milhões, no mesmo Lago Sul;

25. Agora, é o próprio Sarney quem se vê enredado numa transação de má aparência;

26. A presidência de Sarney balançara depois depois da descoberta de que um neto dele, filho de Zequinha, intermediara empréstimos a servidores do Senado;

27. O DEM abandonou Sarney sob o pretexto de que os negócios do neto assemelham-se aos malfeitos atribuídos ao ex-diretor João Carlos Zoghbi;

28. A permanência de Sarney no cargo passou a depender do apoio do PT. Já não estava fácil. Agora talvez fique ainda mais difícil.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Moral versus política

A que ponto?


(Repórter do CQC Danilo Gentili é derrubado por um segurança do Sarney)

Qual o fundamento moral da permanência do presidente de uma das maiores instituições nacionais, o Senado, se além de escândalos comprovados, ele foge da opinião pública usando violência e truculência contra a informação?

José Sarney, não está apenas cercado de acusações políticas. Há um segundo muro: o de seguranças, que repele jornalistas e avisa aos fotógrafos: "não fiquem em cima do presidente".

O bloqueio se inicia na saída do carro, chega à entrada do elevador do Senado e se estende até a entrada no gabinete da presidência.

Caso haja insistência, a consequência é por conta da segurança.


**************

Em tempo: O PT ainda não se posicionou quanto a decisão da saída do presidente José Sarney. Você já fez as contas de quantos senadores do PT concorrem para reeleição em 2010?

9 de 12 ( ! )

quarta-feira, 1 de julho de 2009

José Sarney é bode expiatório?


(desenho acima: um bode)

Pra refletir o conceito sobre bodes expiatórios, segue lista com 18 denúncias contra o presidente do Senado, Jose Sarney (ex-presidente da República).

1) Maria do Carmo Macieira, sobrinha de Sarney, nomeada por ato secreto no gabinete da senadora Roseana Sarney, filha do presidente do Senado;

2) Vera Portela Macieira Borges, sobrinha de Sarney, nomeada por ato secreto no gabinete do senador Delcídio Amaral, em Campo Grande;

3) João Fernando Sarney, neto de Sarney, nomeado e exonerado por ato secreto no gabinete do senador Epitácio Cafeteira;

4) Rosângela Terezinha Michels Gonçalves, mãe de João Fernando Sarney, neto de Sarney, nomeada logo após a exoneração do seu filho;

5) Nathalie Rondeau, filha do ex-ministro Silas Rondeau e afilhado político do Sarney, nomeada para trabalhar no Conselho Editorial do Senado. Sarney preside o Conselho;

6) Amaury de Jesus Machado, funcionário da senadora Roseana Sarney na casa dela em Brasília, é lotado no gabinete da senadora;

7) José Sarney emprestou seu imóvel funcional ao ex- senador e seu aliado Bello Parga;

8) Elga Mara Teixeira Lopes, especialista em campanha eleitoral, nomeada e exonerada através de ato secreto entre o 1º e o 2º turnos da campanha de Roseana Sarney para o governo do Maranhão, em 2006. A exoneração foi cancelada posteriormente por meio de ato secreto;

9) Valéria Freire dos Santos, viúva de um ex-motorista do Sarney, mora há quatro anos num imóvel localizado no térreo de um dos prédios exclusivos para os senadores. Ocupa cargo comissionado no Senado Federal;

10) Fausto Rabelo Cosendey, gerente administrativo da empresa do neto de Sarney (SARCRIS, no Maranhão), José Adriano Sarney, é lotado no gabinete do deputado Sarney Filho;

11) Isabella Murad, sobrinha de Jorge Murad (marido de Roseana), nomeada por ato secreto para o gabinete de Epitácio Cafeteira. Ela mora na Espanha;

12) Virgínia Murad de Araújo, prima de Jorge Murad (marido de Roseana), nomeada no gabinete da liderança do governo no Congresso pela senadora Roseana Sarney;

13) Ivan Celso, irmão de Sarney, teve cargo de confiança no Senado;

14) Fernando Nelmásio Silva Belfort, diretor executivo do museu e também mausoléu de Sarney, foi lotado na Liderança do Congresso Nacional;

15) Shirley Duarte de Araújo, cunhada de Sarney, lotada durante seis anos no gabinete da senadora Roseana Sarney;

16) José Sarney encabeça os atos que criaram pelo menos 70% dos cargos de direção da Casa;

17) José Sarney recebia auxílio-moradia no valor de R$ 3,8 mil mesmo tendo casa em Brasília;

18) José Sarney ordenou que quatro servidores da área de segurança do Senado Federal fossem deslocados para reforçarem a segurança de sua casa no Maranhão.

Trinca de olho na eleição: Nelson Jobim , Lula , Sarney


(Acima, ministro Nelson Jobim no camarote da Brahma, mostra tatuagem provisória)

A brincadeira é acertar de quem é o discurso:

"As soluções têm que visar ao interesse das instituições democráticas. Não adianta intervenção para este que é um problema antigo. Que se mude as regras, mas não se pode debitar os problemas apenas a um personsagem, tendo em vista as
eleições de 2010".

- Lula?

- Não, tá na Líbia.

- Ah, então é Nelson Jobim.

Pois é, o ministro da Defesa.

- Do governo?

- Não, meu caro, do país.

Enquanto isso, a informação é que Sarney se reuniu com líderes e familiares em sua casa de Brasília para discutir a crise.
´
Não tem como não imaginar que além da filha de Sarney e governadora do Maranhão Roseana (PMDB), o deputado federal e filho de Sarney, Sarney Filho (PV-MA), estiveram também presentes o mordomo (funcionário público que a gente paga) ; o neto de Sarney , José Adriano Cordeiro Sarney , que opera crédito consignado no Senado ; Vera Portela Macieira Borges, sobrinha de Sarney , que recebeu cargo com ato secreto; Rosângela Terezinha Michels Gonçalves, mãe de João Fernando Sarney, neto de Sarney, nomeada logo após a exoneração do seu filho... etc.

O bom é que possível é para Sarney saber como está a situação dele nos diferentes planos , esferas e poderes brasileiros. Parentada por todos eles é que não falta.


***********
O discurso do ministro Nelson Jobim foi dito durante audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.

Livro: Máscaras, de Leonardo Padura Fuentes



Máscaras, de Leonardo Padura Fuentes, é editado pela Companhia das Letras, naquele bom formato de livro de bolso.

Quase bolso, já que não cabe nos da camisa nem nos da calça. Mas se encaixa bem nas mãos e resiste aos ângulos do metrô lotado fora dos horários de pico - já que nessas horas, o lotado tem outro nome, o muito além do excesso de gente num espaço limitado.

Além do excesso é o que?

E o livro:

Ler Máscaras é passagem à Cuba nos olhos de um policial quase-afastado, escritor quase-frustrado, quase-alcoólatra e fumante (sem quases) de charutos , não necessariamente nessa ordem.

O crime é sobre travestis, diplomacia e revolução cubana.

Exagero social contra individualidade mental.

Você mergulha no submundo de Havana, nas festas fechadas cheias de personagens com personalidades ocultas.

É um livro dentro do livro.

Uma bela e intensa viagem certeira de vontades de um Montecristo ao som de Rubén González.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Tem que sair



É imaginável?

Em dia de mudança de rumo no Senado, DEM, PSDB e PDT decidem pela saída do presidente da casa, José Sarney (PMDB-AP), depois dos sucessivos escândalos dos atos secretos - conta bancária escondida, empréstimos e nomeações de parentes a cargos públicos.

PT agenda reunião na noite de terça-feira, 30 de Junho.

Decisão? Fica pra amanhã depois de novas discussões.

Seria digestivo algo assim há 10 anos?

A maior força de segurança de Sarney hoje é do presidente Lula - historicamente ovacionado por sua luta contra esses tipos de politicos brasileiros - os já conhecidos caciques que sustentam o poder por décadas no nosso país.

Em pratos limpos, tem se dito nos corredores de Brasília que a questão fundamental é a eleição presidencial de 2010.

Michel Temer, presidente do Congresso, deve sair candidato a "algum cargo". E o presidente do Senado assumirá a República no entreatos.

Quem seria esse líder do PMDB, além do velho Sarney, pra chegar ao alto posto? E como ficaria o jogo político da sucessão?

Outro ponto importante é a responsabilidade de toda Mesa Diretora. Aí o problema se encontra além das nomeações dos parentes e amigos de Sarney.

Grande parte dos senadores está envolvida nos atos secretos. Mas o problema é mais antigo do que a atual composição do Senado - a prática é reticente e resistiu a diferentes eleições - os burocratas públicos continuaram com o poder no parlamento durante a mudança dos senadores - que no vai e vem sempre assinaram embaixo das decisões secretas, às vezes sem entender o que rubricavam.

E como líder da Casa, Sarney pode ficar?

Há como?

Pior: Há o como.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Memória - Culpa - Perdão


( ilustração acima: arte Meninos na Gangorra, de Portinari)

Há lógica na culpa sem a memória?

Há perdão sem culpa?

A memória instiga a existência do perdão se houver a culpa.

Mas a ausência da culpa nega a existência do perdão. E só existirá a memória.

Memória não é culpa, mas culpa faz parte instrínseca da memória.

A memória não é a culpada.

Talvez a culpa do perdão seja a memória.

E é melhor esquecer?

Ou o esquecimento afagará a culpa?

Não. O esquecimento não é mais forte que a culpa.

O esquecimento é parte da memória.

Assim como a culpa é do perdão.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Art Blakey - Au Club St Germain



Que beleza.

O jazz - um dos artistas que sinto mais alegria de ouvir é o Art Blakey.

Alegria que vem acompanhada da impressão de não ser minha, mas fruto sim do contágio - espirrada pelo próprio: Art Blakey. Numa forma atemporal, materializada a cada toque da música dele, do Jazz Messengers.

De uns dias pra cá, re-tirei da caixa o sensacional Au Club St Germain, gravado em 1958.
50 anos tem isso.

Parece videogame de última geração - daqueles sem fio que espelham a realidade virtual.

Trampolim direto.

A passagem é instantânea para o clube francês, St Germain.
Será que tem coisa ai?
O tal não é imortal?
Uns dizem que sim.
St Germain não conheceu Nostradamus?
Talvez o Dan Brown saiba. Ou o Paulo Coelho - Prefiro deixar esse ai na cartola mesmo, sem mágica.

Without magic, my friend.

Acaré sem pimenta.

Mas e o Art Blakey...

Se você fechar os olhos, cuidado pra não pisar no pé de alguém.

O ambiente não podia ser melhor: uma platéia entusiasmadíssima - pode-se ouvir o pessoal dançando, conversando, rindo.

Loooongas jams.... a maioria das músicas passa dos 10 minutos (!)

O grupaço:
Lee Morgan - trompete
Benny Golson - Sax tenor
Bobby Timmons - piano
Jimmy Merritt - contrabaixo
Art Blakey - bateria

Saia correndo com os dedos e encontre na sua digitação o caminho. Adquira, desfrute.

Um pouco de Art Blakey com a mesma formação do Jazz Messengers..

terça-feira, 23 de junho de 2009

Lista dos senadores beneficiados por atos secretos

Por essa lista a gente vê que tem partidos de todos os lados e senadores de vários estados envolvidos...

Aldemir Santana (DEM-DF)
Antonio Carlos Júnior (DEM-BA)
Augusto Botelho (PT-RR)
Cristovam Buarque (PDT-DF)
Delcídio Amaral (PT-MS)
Demóstenes Torres (DEM-GO)
Edison Lobão (PMDB-MA)
Efraim Moraes (DEM-PB)
Epitácio Cafeteira (PTB-MA)
Fernando Collor (PTB-AL)
Geraldo Mesquita (PMDB-AC)
Gilvam Borges (PMDB-AP)
Hélio Costa (PMDB-MG) licenciado (ministro)
João Tenório (PSDB-AL)
José Sarney (PMDB-AP)
Lobão Filho (PMDB-MA)
Lúcia Vania (PSDB-GO)
Magno Malta (PR-ES)
Marcelo Crivella (PRB-RJ)
Maria do Carmo (DEM-SE)
Papaléo Paes (PSDB-AP)
Pedro Simon (PMDB-RS)
Renan Calheiros (PMDB-AL)
Roseana Sarney (PMDB-MA) renunciou para assumir o governo do MA
Sérgio Zambiasi (PTB-RS)
Serys Slhessarenko (PT-MT)
Valdir Raupp (PMDB-RO)licenciado (ministro)
Wellington Salgado (PMDB-MG)

Senadores que assinaram atos secretos quando integravam a Mesa Diretora da Casa

Antonio C. Valadares (PSB-SE)
César Borges (PR-BA)
Eduardo Suplicy (PT-SP)
Garibaldi Alves (PMDB-RN)
Heráclito Fortes (DEM-PI)
Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR)
Paulo Paim (PT-RS)
Romeu Tuma (PTB-SP)
Tião Viana (PT-AC)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Escândalos no Senado...Atos Secretos...Sarney

19h.......

Escândalos no Senado....Atos Secretos.......Sarney........

Cristovam Buarque, senador do PDT/DF, acaba de falar na tribuna: "venho aqui, depois de um fim de semana com todas as principais revistas do país criticando o Senado e e mesmo assim, hoje temos menos de 12 senadores na Casa. Tudo continua como se nada estivesse acontecendo"...... (!)

Então ele apresenta duas propostas:

1. O afastamento por licença do presidente do Senado, José Sarney, por tempo por ele mesmo (Sarney) determinado, seja de 15 dias; um mês; 2 meses, até que as reformas necessárias sejam feitas.

2. Já que não é possível reunir os senadores no horário normal, das 14h às 20h, que os debates aconteçam depois das 20h.

Além disso, o senador Cristovam propõe que os senadores não retornem às suas bases todas as semanas, para que haja parlamentares no plenário.

*******

O Senador Papaléo Paes, PSDB/AP, pede uma parte:::::

"É um caminho duvidoso para a democracia pedir o afastamento do Sarney" ...
"O senhor também pode ser suspeito assim como o Sarney; Sarney, senador do meu Estado"...

*******

E seguem outras reticências, exclamações, travessões.

Pois é, se fizessemos um plebiscito, como o senador Cristovam propôs, para saber a opinião popular em relação ao fechamento do Senado, qual seria o resultado?

Temos um senador do PSDB defendendo o presidente Sarney.
Temos um presidente da República do PT, Lula, defendendo Sarney.
Temos senadores do PMDB, do PDT e de outros partidos louvando o passado do Sarney.

Afinal, quem é a oposição e a situação nesse país?

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Lacan. Pra que gozar.



Nos próximos dias a Corpus Christi a cidade entra em encontros, São Paulo.
De encontro.
Em rotas próximas:
Defesas, corpos, crenças.
Suores juntos em uníssono religioso, sexual.
É evangélico, é gay, é parada. É passeata.
É tudo ao lado,
De lado um do outro.
De lado pro outro.
Um de cado lado.
Junto - separado.
Inspiração.
Expiração.
Expugnação.

E dentro daqui noto Lacan: " Você tem o direito de não gozar".

Pois é. A felicidade ainda é social, como no século XVIII na revolução francesa? Onde o objetivo da sociedade deveria ser a felicidade geral?

Quem não tá feliz toma remédio, desencontra um canto, risca o rótulo "alguma coisa anda errada em você".

Ou vira Emo.

A falta da felicidade hoje é patologia.

E o que é a felicidade expressa na coerção social?

O sucesso.

Sucesso em tudo: dinheiro, trabalho, estudo, família.

É meu caro, seja um homem de sucesso.

Já dizia o slogan da campanha do Lula em 1989: "Sem Medo de Ser Feliz".

A chuva parou.

George Harrison canta "Here comes the sun".

Só se for amanhã.

Vou folheando Lacan, assegurando o direito de não gozar.

Ah, o lado?

Do oroborus.

sábado, 25 de abril de 2009

Alphaville , Jean-Luc Godard (1964)



A grande viagem de Godard?

Para muitos.

Concordo.

A passagem intersideral de Godard é feita de carro.

Reminiscências?

Nos anos 2000, o veículo é um telefone em Matrix. Em 2001 de Kubrick, uma espaçonave.

E todos atravessam sistemas todo-poderosos de coerção, onipreseças de dominação tecnológica.

O fim dos circuitos, ou no que caminha a humanidade?

Em Alphaville, a Bíblia é um dicionário. Todos os dias, palavras desaparecem porque são proíbidas.

São trocadas por palavras novas que expressam idéias novas.

Novas idéias?

Idéias novas.

A consciência não existe.

Não há passado.

O presente é ferro.

É metáfora.

Como luz de outono.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Stanley Kubrick, Dr.Fantástico (Dr. Strangelove)



Fiquei em cima do colchão.

Alguns minutos.

A procura.

Algum DVD para rever do Stanley Kubrick, uma das melhores pedidas.

Tinha também vontade de rir. Sexta-feira. Tem dia certo pra isso?

Decidi pelo Dr.Fantástico, de 1964.

Não tem jeito.

Por ser comédia , de certa forma, espécie rara na obra de Kubrick, esse filme nem passa perto do entretenimento descartável. Se é que isso existe.

São promessas realizadas do melhor humor negro que leva à reflexão -

A partir de um insano general americano que resolve lançar um ataque nuclear devastador na União Soviética, convencido de teorias de dominação comunista contagiosas na água que é de beber.

E o general que de louco tem tudo e de bobo não tem nada, bebe água da chuva, ou destilada, pra não cair no erro de se contaminar.

As mensagens são excepcionais. Paradoxais e irônicas: o capitalismo é russo; o comunismo, americano.

E a idéia pós-apocalíptica de humanidade é apenas um recomeço da nossa natureza: o desejo da luxúria, a vitalidade do poder, o reino do instinto.

Como outros de Stanley Kubrick, Dr.Fantástico é reflexão da existência.

Ainda bem que é comédia. Para rir.

Pára.

Será?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Linhas listras



Não entendo muito de moda.
Preciso desencardir umas meias.
Mas realmente, a tal da tendência vai e vem.
Ao procurar umas fotos de Jean Seberg, atriz do filme "Acossado" de Godard, acabei encontrando o quadro acima. É a prova dos nove.
Jean Seberg é a primeira no topo à esquerda. (A)de listrado
Se não me engano, essas roupas aparecem também no filme Papillon.
Mas me lembro mais da cena das baratas.
E elas estavam nuas.

Acossado, À Bout de Souffle, Godard



Todas as vezes que vejo um filme do Godard eu penso em Woody Allen, não tem jeito.

Nesse ponto, a diferença é que Woody Allen é engraçado.

Acossado gira em torno de um assassino que foge da polícia e faz pequenos roubos no caminho. Mas o que isso tem haver com Allen?

Pode contar: passa dos 20 minutos, direto.

Isso mesmo.

De que?

Discussão de relacionamento!!!

Por mais de vinte minutos. Seguidos. Num quarto.

O cara tenta de todo jeito convencer a moça a tirar pelo menos o top. E ela troca o toco de todas as maneiras: “estou grávida, você deve ser o pai”; “você gosta de Bach?”; “você me ama?”; “com quantas você dormiu?”.

Imagina só.

O cara não desiste.

E haja cigarro.

E fumaça.

Vinte minutos de cigarro. Um atrás do outro.

Era a época do fumo.

E finalmente os dois vão pra debaixo do cobertor.

Pra você ver: Godard, sem saber, além de tudo que fez no cinema, também foi pioneiro na questão do que se passa debaixo de um edredom. Pois é Big Brother...

Vai saber o que houve por lá debaixo.

Mas não pára por aí.

Adivinha o que o cara fala quando a mulher sai da cama?

( Tempo )

- "Foi bom pra você?" .............. (!)

***
Tire suas próprias conclusões...
***

Produzido nos anos 50, Acossado tem brilhantes cortes rápidos e planos sequência.

Sem contar as belas imagens da Europa.

Sem contar as belas imagens de Jean Seberg.

Abra a janela pra sair a fumaça da nicotina queimada.

Ou pegue o cinzeiro.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Bar ruim é lindo bicho!



Bar ruim é lindo, bicho

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins.

Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão - é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.

- Ô Betão, traz mais uma pra a gente - eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?.
- Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?


De Antonio Prata

Texto integrante do volume As Cem Melhores Crônicas Brasileiras, organizado por Joaquim Ferreira dos Santos.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Rashomon, Akira Kurosawa (1950)



O que é a verdade?
Ela existe absoluta ou representa uma visão particular?

Crimes hediondos: estupro, assassinato, homicídio passional no Japão do século 12.

Um marido viaja com a esposa por uma floresta e é surpreendido por um famoso bandido. O crime acontece.

O acontecimento vai a julgamento num tribunal (que não é visto)sem paredes, advogados, juízes.
Não se ouve as perguntas, apenas respostas. Talvez a metáfora do próprio mundo.
Os participantes contam suas versões para nós, espectadores.

Os depoimentos do mesmo crime são diferentes, as vítimas mudam, os motivos são outros, as verdades completamente difusas.

Assassinato, suicídio, crime passional?
Estupro, paixão, entrega?
Medo, coragem, resignação?
Orgulho, preconceito?

Uma testemunha, o lenhador, prefere não se envolver. Não fala ao tribunal dos homens. Mas conta sua versão a um sacerdote, num templo destruído.

É possível perder a fé?
É possível reencontrá-la?

Um filmaço de reflexão, filosófico, de Akira Kurosawa.

E você, é o que parece ser?

terça-feira, 17 de março de 2009

Ornette Coleman, David Cronenberg e William Burroughs



Ao som de Ornette Coleman, David Cronenberg dirige Naked Luch (Mistérios e Paixões), baseado na obra de William S. Burroughs.

Surrealismo puro, onde um escritor viciado em inseticida busca a cura com outra droga: o pó de uma centopéia brasileira, receitada por um médico.

Ele passa a conversar com baratas travestidas em máquinas de escrever e vive realidades paralelas cheias de absurdos, numa alucinação que beira a paranóia.

Se você curte os filmes de David Lynch e a obra literária de Burroughs, aqui é uma grade pedida.

Caso não conheça esses ai de cima, vá preparado para encarar atores contracenando com insetos, muitas metáforas, sexualidade sem preconceitos e um filme daqueles que não são tão fáceis de digerir.

Talvez Burroughts não seja tão conhecido na mídia brasileira, mas andando por aí, quem sabe você já tenha trombado nas bancas de jornais e livrarias com alguma obra de Jack Kerouac. Tem saído várias edições de bolso com os maiores sucessos dele, principalmente o "On the Road". Burroughs foi além de amigo uma grande inspiração para Kerouac.

Vale a pena deixar uns minutos aqui, sem veneno algum.

Aperte o play e vá até Annexia num free jazz alucinante. Só não esqueça de marcar bem o caminho de volta pra não se perder por aí.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Persona, Ingmar Bergman



Eu tentava escrever sobre Persona de Ingmar Bergman. Mas é complicado...complicado pacas. Vai uma linha ou outra, então, só pra puxar assunto...rs

Jean-Luc Godard comentou sobre o trabalho do diretor sueco: "O cinema não é um ofício. É uma arte".

Filmaço. Fundamental.

Filme dentro do filme - literalmente. Melhor: "cinemalmente".
Máscara atrás de máscara.

A história basicamente gira em torno da personificação de uma enfermeira e uma atriz que deixou de falar.

E falar é inventar?
Calar é construir uma máscara?
É proteger-se da realidade?

Algumas das muitas perguntas.

Muitos filmes que vieram depois usaram recursos de Persona: A luz simbólica na personalidade de Marlon Brando em Apocalypse Now; trechos de "imagens polêmicas" no projetor de Clube da Luta, etc.

E bateu vontade de ver o enigma de novo.

Cara, que filme...

Amacord , Fellini



Amacord
Io me ricordo

Um pavão que canta e abre suas asas e mostra suas penas em plena nevasca;
Professores que se encantam com seu próprio encanto;
Um almoço tipicamente italiano de uma família tipicamente italiana;
Um acordeonista cego que toca a bela trilha do filme (de Nino Rota) para um cachorro;
Uma freira anã que pode o que ninguém pôde;
Um tio louco;
Um avô com problemas de gases;
As fantasias inocentes juvenis;
Padres curiosos da curiosidade proibida para padres;
Um narrador histórico que faz história.

Personagens e mais personagens de uma vida simples de um povoado simples de uma época não tão simples assim: a Itália recém fascista dos anos 30.

É uma comédia.
Repleta de caricaturas,
Banhada com poesia,
Como nossas lembranças.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Livro: "A arte de produzir efeito sem causa", Lourenço Mutarelli




"Ou o senhor entra ou o senhor sai. É perigoso deixar o portão aberto".

A arte de produzir efeito sem causa, de Lourenço Mutarelli
Engole-te.
Sem perceber-te passa o tempo.
Até o fim.
Não te larga.
E você não quer também
Deixá-la até lá.
O fim.
Qual é?

Júnior perde o emprego e o casamento.
Vai parar na casa do pai viúvo que o acolhe com o que pode. Dorme num sofá pequeno, velho, com cheiro de urina canina.
Um apartamento classe média baixa, onde vive também uma estudante de arte.
Toma café. Fuma cigarro. Come ovo.
Tenta assistir programas de fofocas na TV. Dorme.
Revê velhos tipos com novos olhos.
Cortina-se noutra rotina.
Enquanto a mente descortina outros palcos.
E passa a receber misteriosas encomendas.
E a relidade se contorce.

"Tudo o que existe tem nome. E o não existe também".

O livro é genial, do enredo aos diálogos. Misterioso, com personagens simples-elaborados e pitadas certeiras de humor e loucura.

A gente acompanha as ações, recordações e o desenvolvimento da "mudança da realidade" de Júnior, que passa a ver "as coisas" de outro modo, preenchidas de novos significados.

As pessoas convivem vivendo em mundos distintos.

Pessoas-réplicas, mal feitas de si mesmas.
Máscaras que se movimentam e se comunicam.

Ao ler "A arte de produzir efeito sem causa" nos aproximamos da idéia da linguagem na comunicação que o que queremos dizer não é exatamente o que falamos, mas que o outro entende daquilo que escuta.

As excelentes ilustrações fazem parte da história, continuam o texto, são parte dele.

E o livro é recheado de ótimas tiradas.

É impagável o momento em que Junior encontra um cara na padaria que compara nossa vida com o planeta do Pequeno Príncipe.

Agora, quando você resolve grifar e diagramar alguns trechos , apodera-se uma sensação maluca. Sério. Como uma possessão.

Eu sou o coisa?
Quem sou (é) ele?

Então faço a pausa por aqui mesmo.
É melhor garantir, vai saber.
Loucura pega.

*****
O livro é publicado pela Companhia das Letras

Achado 1 ( antes do 2 abaixo)



Fui separar alguns jornais para a cachorra que vive na minha casa ler.
Velhos.
Novos, para quem? Ela.

Certo que lê.
Às vezes anda pra lá e pra cá sobre eles.
Gira, roda,
Permanece.
Outras sai,
Como a passar por ali.
Passatempo.
De passagem.
Só pela passagem, só.
Só.

Achado 2 ( continuação do 1 acima )



O causo é que ao revirar as folhas antigas dos jornais para a cadela, um quadrado queda ao chão foi.

E era um aviso de uma marca de sapatos. Desses lembretes que vêm junto do que a gente troca pelo dinheiro.

Achei tão poético que resolvi transcrever para cá.

Tava escrita assim:

Os calçados são confeccionados em couro e camurça, cujas características são transparência e naturalidade. Estes artigos poderão apresentar manchas em contato prolongado com a luz e umidade. A palmilha deste produto também é produzida em couros naturais, metalizados e acamurçados, sujeitos a deformações motivadas pela transpiração. Isto ocorre devido as tonalidades e texturas próprias destas matérias primas. Estas diferenças não deverão ser acatadas como defeitos, por serem características previsíveis destes materiais.

Não é bacana?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Morangos Silvestres, Ingmar Bergman, 1957



Quando é tarde para uma novo olhar da vida?

Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman, é uma aula sobre a possibilidade da redenção.

O filme tem início com o protagonista, o médico Isak Borg ( vivido por Victor Sjöström) sentado no seu escritório contando o que ele é: um velho médico bem sucedido, rabujento, viúvo, que vive a solidão por consequência de como levou, viu e criticou a vida.

Borg vive um sonho extremamente simbólico: ruas desconhecidas numa cidade familiar. Uma carruagem desgovernada quebra um poste de luz, uma roda do veículo se desloca
perigosamente na sua direção, o movimento dos cavalos continua depois que a carga que carregavam cai:

Um caixão.

Dentro dele:

Ele mesmo.

Borg vê sua morte.

A partir daí, Bergman desnuda a transformação do homem.

Os medos, as experiências da infância; do casamento; as amarguras, tristezas, arrependimentos e esperanças passam a conviver com Borg em sonho e na realidade, durante uma viagem para Lund, acompanhado da nora Marianne para receber uma homenagem pelos seus trabalhos.

A poesia é a da vida.

Nua,

Crua,

E

Que não quer mais

Faltar

Amor.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Otto e Mezzo, Fellini



Arriscar.
Sem pretensão.
É por aí que o caminho abaixo segue, a qualquer lugar.

Otto e Mezzo é um filme que nasce para ser revisto.
De primeira, só o ponta pé inicial.
Assita, veja mais uma vez, em partes, por inteiro.

No filme, realidade, sonho e desejo são existências paralelas que convivem com os desafios criativos de um cineasta, Guido Anselmi, interpretado por Marcello Mastroianni.

Viajamos por mais de 120 minutos nas variadas dimensões subjetivas de Guido.
Muitas vezes não é fácil decifrar se estamos no sonho, numa recordação ou em alguma perspectiva da vontade dele.

A intelectualidade, o intelecto são alvos de ironia.

O filme parece indicar também a redenção pela beleza e as fagulhas incógnitas da felicidade que permitem você continuar, apesar do desesperero, da confusão.

*********

Se não bastasse, os diálogos convergem o filme para outras reflexões:

Um jornalista pergunta: "Falta de comunicação é um problema ou um pretexto?"

Outro escritor tagarela: "Já há coisas supérfulas demais no mundo, mais desordem é inútil".

*********

Claudia (Claudia Cardinale) é a musa de Guido, a inspiração que surge rodeada de uma aura que parece estar acima de todos os mundos. Mas onde ela está?
Numa das cenas, Claudia diz: "Leve-me daqui, esse lugar não me parece real".

Pois é.

Muito pra se escrever sobre.
Mas sobretudo para cada um ver o que daquilo sobra.

*******

Para chegar-se ao ponto reticente desse tópico, acredito que é mais honesto transcrever uma das reflexões de Guido, quando ele está com as mulheres de seu harém imaginário:

"Carla ia tocar sua harpa,
como toda a noite,
e seriamos todos felizes,
escondidos aqui,
longe do mundo,
vocês e eu".

...

terça-feira, 10 de março de 2009

Jean-Luc Godard, Le Mepris ( Desprezo)



Woody Allen deve ter mergulhado nesse filme, cheio de diálogos sobre relacionamento, dúvidas, desprezo e paranóias de um casal. Adicionando, é claro o terceiro poder: a possível e praticamente irremediável traição.

Le Mepris é outra tragédia grega que não se esconde: é totalmente exposta desde o início da narrativa, cheia de indicações ao pensamento grego e à Odisséia de Homero.

Mas as referências não param por aí: o filme tem o formato da tragédia. A tensão vai aumentando aos poucos, o medo, a insegurança seguida da violência. As desconfianças de marido e mulher crescem, o desprezo da beleza e da paixão, até atingir o limite final.

Assumir riscos.

Acasos.

Há também a linda fotografia da região de Capri, a participação especial do cineasta Fritz Lang (!), e mais além temos Brigitte Bardot.

Um caso a parte.

É Brigitte do começo ao fim em quase todos os ângulos possíveis :nua, em detalhe, iluminada de formas diferentes. Nudez em vermelho, azul, colorida, descolorada; de peruca, com cabelos soltos, presos, de cima, de baixo, tomando sol, de roupão, intelectualizada, confusa, mimada, decidida.

É a própria construção do mito.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Michelangelo Antonioni: "Blow Up" (Depois daquele beijo).



Madrugada cheia de simbolismos e da alienação em Londres dos anos 1960.

Michelangelo Antonioni no aparelho de DVD com "Blow Up" (Depois daquele beijo).

Mais uma escolha de trilhas inspiradas...dessa vez nas mãos musicais jazísticas de Herbie Hancock.

Não apenas: a banda The Yardbirds aparece tocando rock and roll durante algumas cenas em um show inusitado: o amplificador não funciona; o guitarrista fica enfurecido; o público é estático, com cara de cera até um músico quebrar o instrumento e tacar na platéia. Quem é que segura?

O protagonista do filme: um fotográfo estressado e reconhecido (David Hemmings) , cansado do trabalho com modelos e que acaba por descobrir um assassinato quando revela algumas fotos tiradas por ele durante um namoro de uma casal anônimo num parque.

A novidade é a chave da quebra de sua rotina: o fotográfo resolve investigar o crime por conta própria.

Em que momento um fato se torna importante pra você?

O recém investigador reconhece-se mais tarde novamente como fotógrafo, mas passa por novos caminhos: compra uma hélice de avião gigante numa loja de antiguidades; identifica-se com um velho rabugento que nega a realidade; instiga modelos oferecidas; reclama a liberdade, dribla o estresse com o próprio trabalho em forma de entretenimento, tirando fotografias pela cidade.

Entre um caso e um clique, um grupo de jovens mascarados, pintados e felizes aparece aqui e ali, pede dinheiro, grita e joga tênis numa quadra sem bola numa inspiração do que é real.

Sonho, imaginação ou paranóia?

sábado, 7 de março de 2009

O surrealismo em O Corpo que Cai


Kim Novak com Alfred Hitchcock


Apertei o play num dos grandes clássicos de Alfred Hitchcock, Vertigo - Um corpo que cai (1958).

O filme é delicioso pra viajar, chega a ser surreal. Pra mim o mais instigante foi entrar na hipnótica trilha sonora de Bernard Herrmann e abstrair na bela fotografia de Robert Burks.

Não sei até que ponto é cruel, mas o roteiro e a história foram se diluíndo nessa experiência.

Tudo bem, o filme aponta para outros eixos: como o pioneiro efeito de zoom e recuo da câmera para dar a sensação de vertigem; a participação de James Stewart e de Kim Novak, mas tudo isso foi caindo num redemoinho de sons e viajantes retratos.

Picante.

quinta-feira, 5 de março de 2009

o ser ermitão



O eremita volta as costas a este mundo; não quer ter nada a ver com ele.

Mas podemos fazer mais do que isso; podemos tentar recriá-lo, tentar construir um outro em vez dele, no qual os componentes mais insuportáveis são eliminados e substituídos por outros que correspondam aos nossos desejos.

Quem por desespero ou desafio parte por este caminho, por norma, não chegará muito longe; a realidade será demasiado forte para ele.

Torna-se louco e normalmente não encontra ninguém que o ajude a levar a cabo o seu delírio.

Diz-se contudo, que todos nós nos comportamos em alguns aspectos como paranóicos, substituindo pela satisfação de um desejo alguns aspectos do mundo que nos são insuportáveis transportando o nosso delírio para a realidade.

Quando um grande número de pessoas faz esta tentativa em conjunto e tenta obter a garantia de felicidade e protecção do sofrimento através de uma transformação ilusória da realidade, adquire um significado especial.

Também as religiões devem ser classificadas como delírios em massa deste género. Escusado será dizer que ninguém que participa num delírio o reconhece como tal.

Palavras de Freud, ele mesmo, o de nome Sigmund, no "A Civilização e os Seus Descontentamentos".

Dogville



Não traga a pipoca aqui, pode dar indigestão. Talvez alguns copos de água; vários, para durar pelo menos três horas.

Dogville é um filme duro, daqueles tipo "tapa na cara". Aponta sem trilha sonora nem deslocamento geográfico num cenário cru e imaginativo a crueldade, a animalidade humana escondidas entre os pequenos defeitos que todo mundo tem. Todos os personagens vivem para satisfazer suas necessidades e instintos.

É uma tragédia grega de final apocalíptico, que propõe boas horas de meditação para se abster do sentimento de revolta e indignação que o filme causa.

A narrativa caminha num movimento pendular entre o altruísmo humano e a espera da recompensa, do pagamento de qualquer ato. Do sentimento de vingança e de resignação.

Nicole Kidman está brilhante. O diretor Lars Von Trier faz as câmeras.

Sim, o ser o humano é arrogante. E vive em dúvidas, conflitos. Talvez o mais estrutural: o debate entre razão e emoção.

Instinto, sobrevivência e humanidade.

Depois das viagens e reflexões por Dogville, não esqueça de tomar um banho gelado pra refrescar.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Armadura



Já se nasce de armadura.
É só corpo.
De qual?
Às vezes ela se fortalece.
Outras vezes é abandonada.
E em algumas histórias ela toma vida própria.

Foto da formiga armadurada tirada na praia de Juquehy, fevereiro, 2009.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Plano




Dia de carnaval:
Sem efeitos além da chuva.
Uma folha rosa acidental.
Um vôo no ar molhado.
O pouso num outro tom.
Nova base,
Em novo transe.

( Foto tirada no carnaval de 2009, com flash. Na chuva. Sem retoques ).

Anjo Exterminador, Luis Buñuel



As informações vêm e vão e as memórias permanecem, muitas vezes desconectadas.

Resolvi nesses dias, escapar um pouco do David Lynch para mergulhar num filme sensacional de Luis Buñuel, "O Anjo Exterminador".

Na superfície de minha cabeça, além dos cabelos que continuam por lá, acessando os neurônios sobre o cineasta espanhol, aparece sei lá por qual caminho, a cena clássica de "Un chien andalou" (1929), onde uma lámina de barbear corta um olho. E para por aí, numa aula há vários anos de história do cinema na faculdade de comunicação.

Embora agora, não pára. Continua.

O corte é muito mais profundo em outras dimensões.

"A moral burguesa é, para mim, uma imoralidade contra a qual há de se lutar; esta moral que se baseia em nossas instituições sociais mais injustas como o são a religião, a pátria, a família e a cultura, em suma, o que se denomina os pilares da sociedade." Luis Buñuel

Em "Anjo Exterminador", Buñuel coloca pés e penas de ave na bolsa de uma mulher fina e educada; urso e ovelhas numa antesala durante um jantar burguês depois de uma ópera; pessoas que não conseguem atravessar um vão sem paredes.

"Depois de uma festa de gala, os ricos convidados, por uma razão inexplicável, não conseguem deixar o local. Conforme os dias, as horas e as semanas se passam, a situação piora. As máscaras e convenções sociais começam a ruir, revelando a falsidade e podridão de cada pessoa".

Os empregados da casa onde acontece o encontro saem instantes antes da prisão sem explicação da burguesia. Alguns são demitidos e tudo bem e tempos depois tomam alguns goles do lado de fora da mansão comentando o que pode ter ocorrido com os convidados.

Uma criança consegue dar um passo maior que a maioria. Mas aterrorizada, retorna aonde todos estão.

Finalmente, a idéia: o retorno de um ciclo num tempo diferente no mesmo espaço.

Uma luz indica a abertura da casa. É a luz da libertação.

O que é a luz? E as ovelhas, o que são?

A liberdade dos que estavam presos, muito depois de experimentarem fantasias particulares, quebras de tabus, conceitos e convenções.

Só que a prisão volta a acontecer. Agora numa igreja. Confrontos nas ruas. E as ovelhas de novo... correm querendo participar.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Onde os fracos não tem vez. Ver (de) ver.



"Você me vê?" diz

Anton Chigurh, vilão "maluco" - pra ser ameno com o psicopata - interpretado de forma espetacular por Javier Bardem, antes de resolver a escolha da vida ou morte da possível vítima em "Onde os fracos não tem vez" , vale ser chamada do cartaz do filme.

Não o é.
Bem poderia.

Você vê o que é Anton Chigurh por seus caminhos, pela idéia que representa na cabeça dos outros personagens: num telefonema " você é toda a maldade? " ; numa reunião "ele é pior que o quê"? ; pelo que seus crimes fazem do significado da sociedade moderna: "mata um delegado, mata um sargento aposentado e volta ao local do crime, pra que? Antigamente não era assim".

A teórica tranquilidade da vida numa região de pacato deserto é descortinada na tensão da trama: uma corrida de "gato e rato" entre um psicopata, um veterano caçador que encontrou uma mala cheia de dinheiro , um mercenário , traficantes mexicanos e um xerife à beira da aposentadoria. Só que a linha de chegada ultrapassa o interesse de quem vai ser encontrado primeiro - transcende para o que cada um vê dessa busca e como esses tipos levam a vida.

O penteado de Bardem chega a ser bizarro e dá força ainda mais assustadora ao personagem.

Tommy Lee Jones, o xerife, viaja com as divagações filosóficas e as reflexões da existência em toda parte, seja num restaurante, na sala de casa ou no local do crime - é como se estivesse meditando numa avenida congestionada em horário de pico.

O filme dos irmãos Coen mesmo sem apresentar todas as respostas levantadas na história; com uma velocidade bem diferente dos padrões de Hollywood; paisagens que beiram o absoluto do nada e que colidem com a intrínseca psiquê dos personagens levou quatro estatuetas na 80ª edição do Oscar: melhor filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante, para o espanhol Javier Bardem.

Filmaço pra ver de várias maneiras: com a mão no queixo, de pernas pro ar, comendo pipoca ou com a cabeça nas nuvens.